No espaço digital, tudo parece ser possível quando se junta a componente de protesto social. Entre o que alguns usuários de plataformas digitais preferem chamar de ‘cancelamento’ ou ‘banimento’ de personalidades artísticas e de alguma comunicação social, existe uma outra vertente que precisamos falar dela com alguma urgência.
Considerando o impacto que constituem as redes sociais da Internet nos dias que correm, sucede que não poucas vezes os actores políticos, por via de várias artimanhas e estratégias de acção, podem empregar modalidades para restringir, banir, interromper, controlar ou mesmo impedir a acção cívica no espaço digital. Como forma de contornar tais acções, nos parece ser importante abordar o que consideramos ‘segurança digital para defensores de direitos humanos’.
Importa ainda destacar que a segurança digital é crucial para proteger os activistas, porque os mesmos geralmente lidam com informação sensível e confidencial, como dados pessoais, estratégias de organização dos protestos, informação sobre membros e financiadores, entre outros. Além disso, os activistas podem ser alvos de hackers, governos ou outras organizações que desejam obter acesso a essa informação e usá-las para prejudicar ou neutralizar as actividades do grupo.
Por exemplo, os activistas podem ser vítimas de ataques de phishing, malware, ou outros tipos de violação cibernética que podem resultar na perda de informação importante, roubo de identidade, ou na exposição de conteúdo confidencial. Além disso, governos autoritários ou com tendência tal, podem monitorar as actividades virtuais dos activistas para identificar e reprimir suas actividades.
Ao implementar medidas de segurança digital, como o uso de criptografia, senhas fortes e diferentes para cada conta, redes virtuais privadas (VPN), desactivar o rastreamento de localização, entre outras, os activistas podem minimizar o risco de serem alvo de ataques cibernéticos. Isso ajuda a proteger a privacidade e a segurança de informação sensível que eles possuem e, por consequência, ajuda a proteger o movimento e a manter a liberdade de expressão.
Em Moçambique, observa-se que pouco ou quase nada tem estado a ser dito sobre a temática, mas nos dias que correm defensores de direitos humanos tem sofrido actos de monitoria das suas acções, que podem se traduzir em cancelamento de suas contas por acções maléficas no espaço virtual. Por conta de algum interesse de pesquisa na forma como o espaço virtual é usado para actos cívicos, sobretudo por jovens, nos parece ser oportuno partilhar algumas estratégias de como ‘escapar’ ou ‘limitar’ ao ‘assédio virtual’ em momentos de mobilização social:
- Acione a autenticação de dois factores (2FA): a autenticação de dois factores não é infalível, mas proporciona protecção extra de segurança para as suas contas nas plataformas digitais. Tal pode ser aplicado em suas contas das redes sociais da Internet e e-mails comerciais como G-Mail. Utilize uma aplicação autenticadora como Google ou Microsoft, em vez de SMS para uma camada extra de segurança, porque qualquer SMS pode ser lida por entidades de comunicação que providenciam o serviço (TmCel, Vodacom ou Movitel). Como sugestão, faça uma busca rápida no Google para saber como activar essa ferramenta.
- Para texto e chamadas, opte por WhatsApp ou Signal: as duas plataformas usam um sistema de encriptação ponto a ponto. No WhatsApp, por exemplo, esta encriptação garante que tudo o que é escrito ou dito fica apenas entre si, as pessoas com quem comunicar e mais ninguém, nem mesmo o WhatsApp sabe. Isto é graças ao facto de que, com a encriptação ponto a ponto, as suas mensagens são fechadas à chave, e só o remetente e o destinatário têm a chave necessária para abrir e ler as mensagens. Tudo isto é feito automaticamente, sem ser necessário configurar definições especiais para que as suas mensagens fiquem seguras.
- Em caso de bloqueio de sua conta, conteste: toda a privação da conta é susceptível de ser contestada em menos de 24 horas. Por exemplo, quando o Facebook lhe notifica de uma decisão, podes submeter uma reclamação directa, basta seguir: clica na tua foto de perfil no canto superior direito do Facebook > selecciona definições e privacidade > clica em caixa de entrada de suporte > abra a mensagem que o Facebook enviou sobre a remoção do conteúdo ou restrição > se vires a opção, clica em discordar da decisão.
- Use VPN para escapar restrições de Internet: o uso de rede virtual privada (VPN) é uma alternativa para acessar sites bloqueados e disfarçar a sua identidade durante a navegação. De forma resumida, a VPN oculta o endereço IP da sua localização e configura a rede a partir de um servidor remoto. Com um servidor de outro país, é possível acessar os websites dessa região. Alguns serviços populares de VPN são o NordVPN, Private Internet Access e ExpressVPN. São modalidades pagas, mas com opção de teste gratuito por um curto período. Caso queira apenas conhecer o funcionamento, vale a pena usar essas versões para acessar as plataformas.
- Partilhe menos na secção ‘’Sobre mim’’: as plataformas de redes sociais permitem-lhe partilhar todo o tipo de informações pessoais em linha. Mas toda esta informação apenas acrescenta à sua presença virtual. Só porque um campo é oferecido, não significa que precise de o preencher. Considere deixar informações em branco no seu perfil de meios de comunicação social ou dar apenas uma ampla resposta.
- Uso de palavras-chave: em geral, uma palavra-passe longa é uma medida forte. Cada palavra-passe deve ter um mínimo de 12 caracteres – idealmente, mais próximo dos 16. Cada carácter extra torna uma ordem de magnitude mais difícil de decifrar a sua palavra-passe. A sua palavra-passe deve também ser única para cada plataforma. Se alguma vez se verificar uma fuga de informação, cada conta com essa palavra-passe está em risco. Pela mesma razão, nunca recicle senhas (como usar a sua antiga senha do Twitter como a sua nova senha do Instagram). Igualmente, use caracter especiais como %, #, & ou ainda *.
- Apague contas expiradas de redes sociais da Internet: todos temos provavelmente contas virtuais que nunca utilizamos. Cada plataforma de rede social da Internet que mantém aberto é uma janela extra de vulnerabilidade. Apague as contas não utilizadas e pense cuidadosamente antes de se inscrever em novas contas.
- Não ignore as actualizações de software: algumas redes sociais da Internet arriscam-se a funcionar porque exploram bugs no seu computador, celular ou tablet. Pode proteger-se contra estes tipos de ataques cibernéticos, actualizando para o software mais recente, que tem um código mais forte e menos bugs. Actualize o seu sistema operativo, como MacOS ou Windows, bem como o seu navegador, como Chrome ou Safari. Para protecção adicional, pode também utilizar software antivírus e anti-malware.
- Não partilhe a sua localização ao vivo ou rotinas diárias: partilhar fotografias enquanto está de férias pode ser divertido, mas essas fotografias alertam imediatamente todos que está longe de casa. Em vez disso, recolha fotografias durante a viagem e só partilhe quando estiver de volta. Evite também publicar sobre rotinas na sua vida diária. Uma história sobre o seu ‘treino diário das 6 da manhã’ diz aos perseguidores onde o podem encontrar todas as manhãs e permite aos ladrões saberem quando está fora.
As estratégias acima podem ser falíveis, cabendo aos usuários procurar actualizar as suas acções, deixando o menor número de rastos possíveis.