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Quando procuram um(a) noivo(a) para si!

Politicamente, o país está num contexto de reflexão sobre o modelo de eleição dos titulares aos orgãos de poder local. Porém, enquanto isso, a vizinha África do Sul acaba de nos dar o melhor exemplo da implementação deste modelo, forçando a demissão de Jacob Zuma e elegendo em menos de 24 horas Cyril Ramaphosa como novo estadista.

O povo sul-africano e os partidos da oposição já, muitas vezes, protestavam sobre a Governação de Zuma, sobretudo no tocante aos escandalos de corrupção. Contudo, a demissão de Zuma não era possível ainda porque a Assembleia Sul-Africana que o nomeou é maioritarimente controlada pelo ANC. Mas quando esta decidiu que o Zuma devia ser resignado, tal facto aconteceu: o partidarismo.

Diz-se que a razão dos conflitos entre o ANC e Jacob Zuma surgem por conta dos escândalos de corrupção protagonizadas pelo então Presidente. Olhando para o caso de Moçambique, vários são os casos em que encontramos casos que opuseram partidos políticos e Presidentes eleitos pelo povo mas que os factores de conflitos eram outros, o certo é que a boa gestão do Presidente era propalada aos quatros cantos. Para mim, se estivessemos em face de uma eleição indirecta do Presidente, não existem dúvidas que tal Presidente seria resignado, embora sua boa gestão. O partidarismo! Não cairia aquele povo no Tocovismo prematuramente?

Preocupa-me saber o lugar que a vontade popular, a opinião do cidadão tem nestes processos. Como vimos no caso da África do Sul, apesar de protestos e monções de censura na Assembleia, Zuma resistia pelo apoio partidário. Se o povo Sul-africano é apaixonado por Ramaphosa ou não é lago que desconhecemos, mas os tios do ANC já decidiram. Portanto, o noivo do Povo sul-africano é Ramaphosa, mas não foi este povo que o escolheu, os tios trataram do lobolo e tudo. Caso, a revisão da Constituição da República seja aprovada, isto passará a acontecer em Moçambique na eleição dos Presidentes das Autarquias, Governadores  e Administradores.

Neste caso, preocupa-me entender quem será o verdadeiro patrão de um Presidente indicado na Assembleia. O povo ou o Partido? Aliás, o mais grave neste aspecto é que aquele Partido que se julga cinquentenário do povo, que pela sua experiência deveria produzir os maiores e melhores políticos, é o mesmo que nega a eleição directa. O que teme?

Meus irmãos, o modelo de eleição dos órgãos titulares dos órgãos locais é um assunto demasiadamente sério. Por isso, junto-me às vozes que defendem uma Assembleia Constituinte ou um referendo. Não se pode confundir Partidocracia com Democracia. Primeiro vamos votar em deputados que não conhecemos, depois estes vão votar no Presidente que não conhecemos. Estamos a galgar no escuro, basta!

Autor: Víctor FAZENDA