MEDIA E COBERTURA ELEITORAL EM MOÇAMBIQUE

Decorreu na quinta-feira (19 de Setembro) na Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane um seminário organizado pelo Centro de Estudos Interdisciplinares de Comunicação (CEC) em parceria com a FLCS que visava discutir os contornos do processo eleitoral em Moçambique com especial enfoque na cobertura eleitoral durante a fase da campanha.

O seminário centrou-se em torno de dois temas painéis e contou com quatro oradores. O primeiro painel relacionava-se com o tema Media e cobertura eleitoral: experiências e práticas em democracias consolidadas que foi proferido pela Drª Isabel Ferin Cunha que é Professora de Media e Jornalismo na Universidade de Coimbra, Pesquisadora do Centro de Investigação Media e Jornalismo da Universidade Nova e Lisboa e Membro do Conselho Científico do CEC. 

Por outro lado, a segunda mesa de debate contou com as intervenções da Drª Leonilda Sanveca que é professora de Ciências da Comunicação e Pesquisadora do CEC que abordou o tema relacionado com A cobertura televisiva das campanhas eleitorais em Moçambique, dando seguimento o Dr. Crescêncio B. B Pereira que é Assessor de Comunicação do IESE falou sobre A “cor política” da imprensa moçambicana em campanhas eleitorais: O caso dos semanários Domingo e Savana nas eleições de 1994, 1999 e 2004 e para terminar o Dr. Egídio Vaz que é Pesquisador do CEC e oficial do programa para capacitação dos media da IREX que abordou o assunto relacionado com As relações entre os actores políticos e os jornalistas em processos eleitorais.
Conforme previsto, iniciou o seminário com Drª Isabel Cunha, tendo dito que as campanhas eleitorais são feitas consoante os contextos. Referiu que os media funcionam claramente ligados a grandes grupos econômicos e a forma como a imprensa emite a informação está directamente ligada a política. A media não pode dissociar-se de aspectos financeiros, uma vez que no contexto actual, as publicidades geram muito dinheiro que é o suporte dessas televisões. A cultura política está ligada directamente ao povo, a lealdade partidária constrói-se dentro dos partidos e em Portugal (por exemplo) essa é que é a tendência, pese embora os jovens desses partidos sejam ambiciosos e apenas a pensar muitas das vezes em si próprios.
Um dos exemplos de tipo de campanha que a oradora trouxe foi o caso dos EUA, que conforme sabemos existe um sistema presidencial onde em tempos atrás os presidentes anteriores é que escolhiam os seus sucessores; num segundo momento a aparência é que mais contava para a eleição de um candidato e hoje em dia, conforme se provou nas eleições de 2008 com Barack Obama, a internet foi um elemento crucial para a sua eleição dele numa era pós-televisão. Mas há que referir que a Internet nunca irá substituir a Televisão, pois esta muitas das vezes é um nicho de mercado intelectual, pois se apresenta como elemento de exclusão de uma parte da sociedade.
Outro elemento por ela referido centrou-se com a comunicação política existente em vários países e a forma como os actores políticos tinham acesso a media, tendo dito que existem campanhas non stop que não se exercem dentro do tipo normal de campanha, mas sim e forma continuada.

Sobre a relação entre assessores políticos e os jornalistas disse que há uma relação de dependência por parte dos jornalistas, uma vez que estes passam a depender apenas do que lhe é apresentado pelos assessores políticos em tempos de campanha. Ademais, existe durante as campanhas uma personalização das campanhas em que se dá enfoque a apenas um candidato exclusivo.

Aconselhou dois elementos essenciais para a condução de campanhas: deve haver uma clareza do funcionamento das campanhas (como são fornecidos os bens, quanto e quem oferece); deve-se adoptar a cultura de voltar em programas políticos e não em pessoas.
Dando continuidade ao seminário, Leonilde Sanveca falando sobre A cobertura televisiva das campanhas eleitorais em Moçambique referiu que o tipo de tratamento de candidatos políticos obedece em Moçambique duas formas: os excluídos e os apagados, onde alguns são esquecidos e outros totalmente apagados das campanhas pela media.
Nas nossas campanhas existe uma influencia directa dos jornalistas; há conclusões directas dos jornalistas me varias matérias onde emitem opiniões de juízo de valores e por outro lado usam vestimentas partidárias durante as campanhas.
Outro aspecto que a oradora levantou centra-se com o facto das campanhas em Moçambique darem enfoque para elementos factuais nas campanhas, ou seja, aquilo que já foi realizado pelos candidatos que pretendem a reeleição esquecendo dessa forma o manifesto que este candidato traz para os eleitores. Afiançou que o telejornalismo deve ser capaz de informar e formar os cidadãos sobre diversos assuntos. Outro aspecto por ela levantado vai de encontro a fala de tematização que os jornalista em Moçambique tem, ou seja, os temas e os eventos em tempos de campanhas são todos similares para todos candidatos.
Crescêncio B. B Pereira falando sobre A “cor política” da imprensa moçambicana em campanhas eleitorais: O caso dos semanários Domingo e Savana nas eleições de 1994, 199 e 2004 referiu que em Moçambique o tipo de favorecimento de campanhas eleitorais tem que ver com a natureza da media, os medias públicos são pró-partido no poder, equanto que os privados são pró-oposição.
Crescêncio fez uma análise de conteúdo desses dois jornais, onde verificou que os parágrafos editorias dedicados ao partido FRELIMO e RENAMO eram diferenciados e as análises de conteúdo eram de um lado a favor, e contra respectivamente.
Para terminar, Egídio Vaz falando sobre As relações entre os actores políticos e os jornalistas em processos eleitorais referiu que está é caótica, desastrosa, perigosa e débil; segundo, as rotinas em tempos de eleições são improdutivas; terceiro, há uma espetacularização das campanhas eleitorais, e quarto, há fraude nos nossos processos.
No seio dos media, há uma desorganização escandalosa bem como a má aplicação da lei de imprensa, e da lei de acesso à informação que jaz na Assembleia da República sem aprovação, e da política de informação que não tem andamento algum. Para Vaz, os órgãos públicos são capturados pelo regime político actualmente vigente. Os partidos políticos da oposição são muito desorganizados, comparativamente ao partido no poder (FRELIMO). Os nossos órgãos de comunicação funcionam sem meios para cobrir as campanhas chegando até  a serem patrocinados por partidos políticos.
Como forma conclusiva, ficou claro que os media precisam de mais a independência em relação aos políticos para exercerem a sua função de forma aberta e isenta, tendo em conta a sua função que é de informar e formar os cidadãos, mas para tal precisam de recursos materiais, humanos e financeiros.