COVID-19 France

Sobre a actual pandemia…uma oportunidade?

Em 2009 foi publicado um livro com o título ‘Governar o imprevisível’, da autora francesa Anne-Claude Crémieux. Dedicado a explicar como o mundo tinha gerido as crises sanitárias dos anos passados como a gripe H1N1 e SRAS, ela mostra o quão complexo foi ou é para os governos administrarem crises que mal conhecem ou sabem explicar quando poderão ter fim.
 
As pandemias, cuja propagação é extensa e a cura é inexistente, têm uma particularidade que pode dificultar as decisões a serem tomadas (ou não) por determinados Governos. Tudo isto faz-nos questionar o quão razoável é, por exemplo, o Presidente da República decretar medidas que proíbam aglomerações de 300 pessoas, mas ao mesmo tempo permita que as escolas e os mercados funcionem sem sobressaltos.
 
É quase factual que presente pandemia coloca o já conhecido problema das crises sanitárias globais no centro das notícias, levando-nos a colocar algumas questões enquanto seres humanos: estamos prontos? reagimos demais a uma epidemia da família do coronavírus? Pelo contrário, sub-reagimos deixando um vírus espalhar-se ao ponto de ser uma pandemia?
 
Essas questões são colocadas por cada nova crise sanitária global, foi assim com a SRAS, com as ondas de calor na Europa ou mesmo com a pandemia de gripe. Todos esses eventos podem ser descritos como as primeiras crises de saúde do século XXI e introduziram um novo acordo relacionado à sua velocidade e escala, pois nos questionam até que ponto os cientistas podem ter falhado em prevê-los.
 
Aliás, essas crises podem destituir ou descredibilizar políticos (e governantes) que são forçados a agir e a se comunicar com incerteza. Se é teoricamente verdade que ‘’governar é prever’’, como então ‘’governar o imprevisível’’ que é a pandemia da COVID-19, a qual desconhece-se o seu pico, a sua cura ou então a provável estagnação? Podemos, em outras palavras, perguntar: qual será o ‘’custo político’’ da COVID-19?
 
Longe das correntes fatalistas ou apocalípticas do mundo (Camus, 1947; Defoe, 1982; Taylor, 2019), pensamos que a actual ‘’crise’’ se revela como oportuna num longo prazo. Ela é oportuna na configuração social e política que nos espera na fase pós-pandemia, sendo que dessa vez não será por conta dos efeitos da guerra, fome ou catástrofes naturais como os maiores males da humanidade. Eis uma oportunidade.
 
Por hora, cuidem-se e cuidem dos vossos.
 
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Referências:
 
Camus, A. La Peste. Belin – Gallimard. Paris. 1947(2012).
 
Crémieux, Anne-Claude. Gouverner l’imprévisible : Pandémie grippale, SRAS, crises sanitaires. Tec & Doc Lavoisier. Paris. 2009.
 
Defoe, D. Journal de l’Année de la Peste. Folio. Paris. 1982.
 
Taylor, S. The Psychology of Pandemics: Preparing for the Next Global Outbreak of Infectious Disease. Cambridge Scholars Publishing. UK. 2019.