Quando a noite se torna numa insegurança


O assunto que trago neste artigo já vem sendo tema de debates em vários círculos na nossa sociedade, em particular na província de Maputo e mais concretamente nos bairros periféricos da Matola e da Cidade de Maputo. O cenário que a população tem estado a passar nos últimos dias é de um medo e clima de tensão generalizado.
        Muito pode se levantar sobre o assunto da criminalidade que não é novo, porém ganhou proporções alarmantes nos últimos dias, pretendo aqui trazer alguns pontos que penso serem importantes para uma reflexão do ambiente de tensão e medo e este artigo é apenas um ponto de partida abrindo espaço para várias outras análises.
O primeiro aspecto está ligado à responsabilização da entidade que deve garantir em primeira instância a ordem e traquilidade públicas formalmente instituída com o monopólio do uso da força dentro do seu território de jurisdição. Essa função é incumbida ao Estado que tem os diferentes tipos de polícia que devem zelar essa função, mas o que vemos hoje é uma polícia quase demissionária no exercício das suas funções. A polícia queixa-se da exiguidade de meios materiais, humanos e financeiros para o exercício da sua função, mas a população não pode esperar que estes meios apareçam enquanto a mesma vai sendo torturada por marginais. Esta mesma polícia vezes sem conta consegue ter meios para exercer funções de pequeno relevo para a população.
O segundo ponto tem a ver com o perigo que há por de trás do policiamento comunitário que é feito pela população nos seus bairros, o que vem a comprovar o primeiro ponto da ausência do Estado representado pela polícia e isto traz claramente efeitos adversos ligados à captura de indivíduos em algumas ocasiões que nada tem a ver com esse submundo e quando confundidos são torturados e isto faz eclodir mais linchamentos uma vez que os cidadãos acreditam cada vez menos na acção da polícia. Não estou contra essa actividade, mas a mesma deve ser acompanhada por alguns agentes da lei e ordem para eventuais capturas evitando dessa forma o oportunismo de alguns cidadãos.
Em última análise relaciono este fenómeno às questões urbanísticas que as nossas cidades apresentam que são de forma desordenada e sem o devido controlo da expansão por parte dos Conselhos Municipais.  O que se verifica nestes bairros é a ausência de infra-estruturas de garante de convivência normal em sociedade, desde hospitais, mercados e esquadras alegadamente porque não há vias de acesso e no caso vertente da segurança, a polícia não tem meios circulantes para chegar a estes bairros quando é solicitada a intervir.
       A polícia já veio a público com o pronunciamento de que estes crimes em algum momento relacionam-se com a actual estação, facto que não tem espaço nesta análise, na medida em que nada garante-nos que quando o período do frio terminar os crimes também vão terminar.
Quero em último lugar apelar às autoridades que continuem a intensificar os seus trabalhos com vista a estancar esse cenário aterrador que nos tira o sono.
Clama-se por “Nhadayeyoooo – Socoroooo…!”.

Mais não disse!