Filipe Nyusi e Oldemiro Balói, um dos exonerados

Entre exonerações e nomeações de Ministros, o que há no meio?

Uma das questões que sempre me coloco sobre as movimentações no Governo é tentar perceber se existe (ou não) algum perfil para se ser Ministro? Parece uma pergunta simples, mas a resposta se mostra cada vez mais complicada a obter depois da última mexida no nosso xadrez governativo.

Aliás, afinal o que é um Ministro e qual é a sua função? Para mim esse devia ser o ponto de partida, sobretudo num país onde o Presidente da República dispõe de poderes ‘’ultra excessivos’’ para nomear e exonerar quem quer que seja. Se ontem pensávamos ser primordial pertencer ao órgão máximo do partido no poder (Comissão Política) para ocupar certos cargos, parece que essa lógica ficou ”em xeque” depois do que vimos.

Outro elemento que me parece crucial no debate é perceber o que significa na essência ‘’confiança política’’? Digo isto porque recordo do discurso de 15 de Janeiro de 2015, quando o Presidente da República dizia: ‘’(…) Queremos dirigentes que escutem os outros, mesmo quando a opinião desses outros, não lhe for favorável. Exigirei do meu governo os valores do humanismo, humildade, honestidade, integridade, transparência e tolerância.’’. Se formos a aplicar este trecho discursivo, será que esses elementos estão presentes no actual Governo? Que tipo de governantes temos hoje? Não será a confiança política uma forma de perpetuar a incompetência governativa, acomodação (política) ou mesmo agradecimento (político)?

Aliás, penso que enquanto não existir uma explicação mínima que seja para justificar a movimentação de membros de Governo, a especulação e o julgamento público continuarão a ser presentes no debate público nacional. Pedir para que as pessoas não questionem as razões de se nomear/exonerar algum membro do Governo é contrariar o próprio Chefe de Estado que defendeu no seu discurso de tomada de posse o seguinte: ‘’(…) Quero que todos os moçambicanos sejam capazes de se fazer ouvir independentemente de pertencer ou não a um partido. Essa é a ideia profunda de inclusão que começa na cidadania plena de cada moçambicano e no respeito pela pluralidade e diversidade de opiniões.’’

  • Micah Dunduro

    Uma das perguntas que colocas é super interessante: “qual é a função do ministro”. Gostaria muito de entrar deep nisso, porque me parece que ministro não é exatamente técnico! E pela falta de qualidade do debate na assembleia da República é difícil vermos realmente quão tecnocratas são os ministros.
    Não chegaste a dizer exatamente, mas fico com a impressão que sugeres que antes para chegar a ministro tinha que se estar na comissão política. perdão se tiver percebido mal, mas essa noção é errada. Historicamente há muitos ministros que nunca fizeram parte da CP, uma coisa que é sim nova é a nomeação de não membros do comitê Central para ministros.

    Primeira vez que passo por aqui, mas gostei do blogue e da forma sucinta como escreves.

    • Dércio Tsandzana

      Caro amigo, estimo que tenha gostado de visitar o meu espaço.

      Sobre a questão da Comissão Política, não sugiro directamente que seja uma obrigatoriedade, mas ficou-se com a impressão que a retirada do Pacheco como Ministro do MASA devia-se ao facto deste ter saído do orgão máximo da Frelimo, mas a sua recente nomeação provou o contrário.

      Ou seja, mais do que sair do MASA, Pacheco acabou promovido. A indicação de Pacheco pode ser um rompimento com a lógica de que pertencer ao orgão máximo da Frelimo é um meio caminho para se tornar Ministro.