Cabaz

A paz do cabaz?

Este texto faz parte de uma série de artigos que tenho vindo a publicar neste espaço com vista a contribuir para o processo da Paz em Moçambique. O título acima foi pensado com o propósito de caracterizar o tipo de paz que se está a construir em Moçambique com base no actual modelo de diálogo político que é caracterizado pelo secretismo entre dois actores que se julgam donos supremos da paz, o Governo e a Renamo.

 

A analogia com o cabaz surge pelo facto deste ser caracterizado por conter diversos produtos, regra geral alimentícios, que só ficamos a saber todo o seu conteúdo após abri-lo para conferir, ou seja, um autêntico segredo que é da pertença de quem compôs tal oferenda.

 

Ao insistir no actual modelo de diálogo, estamos a mostrar que como nação não conseguimos aprender com os erros do passado, desde o Acordo Geral de Paz, de 4 de Outubro de 1992 e o Acordo de Cessação das Hostilidades, de 5 de Setembro de 2014.

 

A Paz em Moçambique não pode continuar a ser condicionada a apenas dois actores, onde os moçambicanos desconhecem o conteúdo que está a ser abordado no decorrer de cada sessão, muito menos os propósitos que cada um dos actores persegue.

 

O Governo e a Renamo precisam de apoio de todas as forças vivas da sociedade, visto que o problema da Paz não é um assunto que diz respeito a apenas dois actores, pois, as decisões que sairão deste diálogo vão ter um impacto directo em todos os moçambicanos, sem excepção.

 

Ao incluir outras sensibilidades no actual diálogo, é um ganho para os dois actores, na medida em que vão mostrar o seu comprometimento público com a questão da Paz, bem como estarão a mostrar que não escondem nada e o seu real interesse é com o povo que referem ser a sua maior razão de luta.

 

Ademais, a abertura ao diálogo vai permitir que os cidadãos possam monitorar de forma permanente o cumprimento de um eventual acordo que vai resultar do diálogo, pois, só com a informação é que pode-se evitar interpretações dúbias à semelhança do Acordo Geral de Paz. Os cidadãos precisam saber, temos esse direito.